segunda-feira, 29 de abril de 2019

O FADO

Andar nas ruas de Lisboa é conhecer a sua história. Dos seus amores, do fado vadio, das janelas escancaradas onde alguém espreita, da mulher de lábio carnudo pintado de vermelho berrante que te interpela, na rua esconsa, para um convite sedutor, da rivalidade entre bairros lutando pela primazia de onde surgiu o fado, se na Mouraria, se em Alfama.

Ah, o fado. De início de faca na liga, das tabernas de vinho e fumo, do absinto que corria pelas gargantas, da saudade, dos marginalizados da sociedade. E tal como o tango na Argentina, começou a ocupar o seu espaço entre gente cosmopolita de fraque e cartola, de bengala chique na mão e aba de camisa levantada.

Das meninas de salão que não queriam ouvir o fado coisa de meretrizes de bairro e não de meretrizes da alta sociedade a que pertenciam.

Ninguém melhor 'retratou' o fado que José Malhoa. Ela, Adelaide, mulher de má vida, conhecida por Adelaide da Facada (exibia no rosto uma cicatriz desenhada a navalha), ele, Amâncio, afamado marginal, um desordeiro violento que José Malhoa teve que meter cunhas no Governo Civil para o libertar da cela, para poder concluir o quadro.

Esta encontrei-a numa parede da Tv. Almargem em Alfama, melhor fosse que estivesse na Mouraria, mas quem sou eu, pobre e iletrado em matéria de fado, meter-me em seara alheia.

Então deixemos o fado a quem de fado percebe, e olhemos para o fado que as ruas de Lisboa nos dá.

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